quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Do sofrer o aprendizado: De como foram meus estudos básicos e decidi ser professor



O tempo de meus estudos primeiros lembra-me o choro à porta do colégio. Um medo repentino de perder-me de minha mãe que, professora, precisava cuidar de seus próprios afazeres. Assim começaram meus primeiros meses e anos de escola – e lembro agora de minha tia que me arrastava para a escolinha Monteiro Lobato, tendo seu filho ao lado, sempre me estranhando.

Lembro-me dos dias e das vezes que dizia: “Hoje não vou à escola”. Das vezes que fugi para fazer a frase valer e dos olhos temerosos, preocupados de minha mãe. Deus sabe o quanto ela e minha tia sofreram. Ela ainda sofre.

Estudei, então, a minha pré-escola no tal Monteiro Lobato, público municipal. De lá, lembro-me das canções infantis (“Os-tra-lálálálálá-ô”) e das rivalidades bobas que tínhamos – meu grupo versus o “grupo da perua”. Da minha primeira professora: baixa, loira, de olhos claros, linda e jovem. Da minha segunda professora: alta, loira, de olhos castanho, feia e velha.

Meu primeiro ano - eu já alfabetizado pela minha própria mãe que, professora, não perdeu tempo a me ver reconhecer as letras do alfabeto – recorda as conversas intermináveis e a preguiça de fazer alguma lição, às manhãs da EEPSG Odete Fernandes Pinto da Silva. Onde tudo pra mim era tão chato e lento. Minha mãe chegava, ao final da aula, e terminava minhas lições pra que, enfim, eu pudesse ir embora. No entanto, eu me mantinha com aquele brilhantismo estranho e não me esqueço do meu primeiro livro. Não digo o lido, o escrito. “As aventuras do macaco tagarela”, ao fim do ano, cheio de diálogos que eu inventava e minha professora escrevia – eu mesmo tinha preguiça de escrever. Gostaria de tê-lo em mãos, contudo, lembro-me de sua capa: uma árvore, um macaco marrom e um coelho amarelo a lhe olhar. Fui elogiado, disso não há como esquecer.

Saí da minha querida Odete para perder-me na EEPG Plínio-não-sei-das-quantas. Eu, sozinho sempre, terminava minha lição rapidamente – quem diria – e passava o resto do tempo brincando com dois bonequinhos que eu levava. Lá, senti o prazer do trabalho e da imaginação. Mas foi por pouco tempo: por alguma razão que não compreendo bem hoje, voltei à minha Odete. Privilégios de filho de professor? Pude escolher minha professora: mas qual delas? Como saber a diferença? Escolhi a sala de meu primo Bruno, mas não brincava com ele. À época, voltaram os choros intermináveis e, enfim, fui ao psicólogo. Eu gritava por minha mãe. A psicóloga: “é carência”. E a professora: “esperto como uma cobra”. Como assim, professora? “Nasce sabendo.”

Seguiram-se a terceira e a quarta séries. Na terceira decidi que não ia chorar, chorei. Na quarta sabia que choraria, não chorei. Nádia e Maristela, respectivamente. Nada a acrescentar, exceto o princípio de minha habilidade para criar amigos que, até então, não possuía. Ali, enquanto a malícia e conversas fúteis pululavam entre meus pares, em mim reinavam a inocência e a mera incompreensão das rizadas que lançava.


A quinta e a sexta, ciclo II. Meu primeiro professor de português, homem, eu suponho que hetero, alto, magro e branco. Meu primeiro exemplo de um grupo: paciente, extrovertido, aberto às nossas falas. Mais que um copista de lousa: um mestre. César. Dele, não me esqueço, aprendi o velho xadrez que já não jogo com tanta destreza. Finalmente, eu me sentia parte de um todo, sem exclusão e autônomo em minha sala. Aliás, dessa época veio meu primeiro beijo. Demorei anos para esquecer Carol.

Sétima e oitava: meu amor por História. Lia páginas e páginas de livros didáticos variados constantemente em minha casa. Lembranças da minha professora da quarta, que me fez entender que o Brasil tem muito a melhorar. Ali, eu pensava e raciocinava: por que o Brasil é assim? E lia, estudava, imaginava mil soluções. Nada de futebol com os amigos. Aliás, que amigos? Eu, religioso e inocente, me afastava dos rapazes e fazia parte de grupos majoritariamente femininos – alguns poucos rapazes faziam parte deles.

Deletadas as esperanças do SENAI, fui a uma escola particular, cursar ensino médio e técnico voltado para a informática. Colégio Serrano Guardia. Onde eu tive de aprender a estudar e a fazer lições, onde a disciplina passou a prosperar, onde as amizades fortaleceram-se e acabaram. Mais de uma dúzia de exemplos de bons professores. Não há como esquecer Sergio e Rogério, ambos de português, Mônica e Isabela, Odair de química. E muitos outros. Foi lá que história e português cruzaram-se em Literatura, e eu parti para Letras.

Depois de tanto ter chorado: cá estou. Eu, que dizia não querer ir à escola: quero ser professor. E já o sou.

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