O tempo de meus estudos
primeiros lembra-me o choro à porta do colégio. Um medo repentino de perder-me
de minha mãe que, professora, precisava cuidar de seus próprios afazeres. Assim
começaram meus primeiros meses e anos de escola – e lembro agora de minha tia
que me arrastava para a escolinha Monteiro Lobato, tendo seu filho ao lado,
sempre me estranhando.
Lembro-me dos dias e das
vezes que dizia: “Hoje não vou à escola”. Das vezes que fugi para fazer a frase
valer e dos olhos temerosos, preocupados de minha mãe. Deus sabe o quanto ela e
minha tia sofreram. Ela ainda sofre.
Estudei, então, a minha
pré-escola no tal Monteiro Lobato, público municipal. De lá, lembro-me das
canções infantis (“Os-tra-lálálálálá-ô”) e das rivalidades bobas que tínhamos –
meu grupo versus o “grupo da perua”.
Da minha primeira professora: baixa, loira, de olhos claros, linda e jovem. Da
minha segunda professora: alta, loira, de olhos castanho, feia e velha.
Meu primeiro ano - eu já
alfabetizado pela minha própria mãe que, professora, não perdeu tempo a me ver
reconhecer as letras do alfabeto – recorda as conversas intermináveis e a
preguiça de fazer alguma lição, às manhãs da EEPSG Odete Fernandes Pinto da
Silva. Onde tudo pra mim era tão chato e lento. Minha mãe chegava, ao final da
aula, e terminava minhas lições pra que, enfim, eu pudesse ir embora. No
entanto, eu me mantinha com aquele brilhantismo estranho e não me esqueço do
meu primeiro livro. Não digo o lido, o escrito. “As aventuras do macaco tagarela”,
ao fim do ano, cheio de diálogos que eu inventava e minha professora escrevia –
eu mesmo tinha preguiça de escrever. Gostaria de tê-lo em mãos, contudo,
lembro-me de sua capa: uma árvore, um macaco marrom e um coelho amarelo a lhe
olhar. Fui elogiado, disso não há como esquecer.
Saí da minha querida Odete
para perder-me na EEPG Plínio-não-sei-das-quantas. Eu, sozinho sempre,
terminava minha lição rapidamente – quem diria – e passava o resto do tempo
brincando com dois bonequinhos que eu levava. Lá, senti o prazer do trabalho e
da imaginação. Mas foi por pouco tempo: por alguma razão que não compreendo bem
hoje, voltei à minha Odete. Privilégios de filho de professor? Pude escolher
minha professora: mas qual delas? Como saber a diferença? Escolhi a sala de meu
primo Bruno, mas não brincava com ele. À época, voltaram os choros
intermináveis e, enfim, fui ao psicólogo. Eu gritava por minha mãe. A
psicóloga: “é carência”. E a professora: “esperto como uma cobra”. Como assim,
professora? “Nasce sabendo.”
Seguiram-se a terceira e a
quarta séries. Na terceira decidi que não ia chorar, chorei. Na quarta sabia
que choraria, não chorei. Nádia e Maristela, respectivamente. Nada a
acrescentar, exceto o princípio de minha habilidade para criar amigos que, até
então, não possuía. Ali, enquanto a malícia e conversas fúteis pululavam entre
meus pares, em mim reinavam a inocência e a mera incompreensão das rizadas que
lançava.
A quinta e a sexta, ciclo
II. Meu primeiro professor de português, homem, eu suponho que hetero, alto,
magro e branco. Meu primeiro exemplo de um grupo: paciente, extrovertido,
aberto às nossas falas. Mais que um copista de lousa: um mestre. César. Dele,
não me esqueço, aprendi o velho xadrez que já não jogo com tanta destreza.
Finalmente, eu me sentia parte de um todo, sem exclusão e autônomo em minha
sala. Aliás, dessa época veio meu primeiro beijo. Demorei anos para esquecer
Carol.
Sétima e oitava: meu amor
por História. Lia páginas e páginas de livros didáticos variados constantemente
em minha casa. Lembranças da minha professora da quarta, que me fez entender
que o Brasil tem muito a melhorar. Ali, eu pensava e raciocinava: por que o
Brasil é assim? E lia, estudava, imaginava mil soluções. Nada de futebol com os
amigos. Aliás, que amigos? Eu, religioso e inocente, me afastava dos rapazes e
fazia parte de grupos majoritariamente femininos – alguns poucos rapazes faziam
parte deles.
Deletadas as esperanças do
SENAI, fui a uma escola particular, cursar ensino médio e técnico voltado para
a informática. Colégio Serrano Guardia. Onde eu tive de aprender a estudar e a
fazer lições, onde a disciplina passou a prosperar, onde as amizades
fortaleceram-se e acabaram. Mais de uma dúzia de exemplos de bons professores.
Não há como esquecer Sergio e Rogério, ambos de português, Mônica e Isabela,
Odair de química. E muitos outros. Foi lá que história e português cruzaram-se
em Literatura, e eu parti para Letras.
Depois de tanto ter chorado:
cá estou. Eu, que dizia não querer ir à escola: quero ser professor. E já o
sou.